A remissão

Embarcara no ônibus sozinho, rumo ao improvável. Na sua frente, a estrada da incerteza. Em suas mãos suadas e trêmulas, uma passagem apenas de ida. Seus olhos úmidos mergulhavam no adeus de nenhum aceno, nenhuma afetiva despedida, apenas a minúcia contundente daquela separação, poucas lágrimas num derradeiro ato de remissão, a mudez do adeus inexistente, deixaria nele, uma dolorosa cicatriz. Estava com o coração acelerado, absorto em uma implacável ambivalência, entre o certo e o errado. De concreto, havia somente um guia: os sonhos que o acalentaram até aquele momento. Ideais, consolidados pelos livros que lia, pelo conhecimento que adquiria, pelos rascunhos que escrevia.
Em cada livro sempre deixava marcado pequenas frases, fragmentos de sua história de vida, hiatos de expectativas de um futuro melhor.